sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Reflexão sobre o fazer jornalismo

Diante de diversos acontecimentos no período pré-eleitoral, parei para refletir sobre o fazer jornalístico. O que é jornalismo para a maioria das pessoas? Ainda será mostrar as verdades ou o máximo possível de apreensão da realidade? A verdade ainda terá força diante de tantas mentiras arquitetadas que ecoam pelos ares? Qual a importância do trabalho da imprensa?
Para alguns, parece que importa apenas aquilo que vem de encontro aos interesses próprios. Verificamos profissionais da imprensa recebendo ameaças, sendo acusados de parciais, justamente por esclarecer realidades à população. Por informar aquilo que muitos não gostariam que fosse notícia. Por cumprir sua missão de utilidade pública e serviço em favor da sociedade, dentro das condições que a legislação permite.
Enquanto isso, lá em Brasília, onde a Justiça deveria ser feita, segue tramitando o projeto que visa tirar a obrigatoriedade do diploma de jornalista. Cabe ressaltar que quem decidirá serão os políticos e não a população.
Isso me faz pensar sobre muitas coisas: ética, valores, direitos adquiridos, os interesses que estão por trás de uma lei deste gênero. Será a volta da censura? Ou a censura camuflada?
Calar os meios de comunicação seria uma bela estratégia. Mas, melhor que esta, mais inteligente e menos ofensiva e compreensível à maioria das pessoas, é dominar e manipular os mesmos. Isso, com jornalistas, é um pouco mais difícil. Porque nem todos se sujeitam a passar anos nos bancos universitários para servir a interesses, sejam eles ideológicos, políticos ou financeiros.
Talvez a intenção seja colocar à frente dos veículos de comunicação pessoas sem formação específica, que não têm compromisso nenhum com o código de ética ou com a sociedade em si. Pessoas que podem ter interesses bem alheios à paixão de trabalhar com jornalismo.
Pergunto: Você entregaria a estabilidade e segurança do prédio que está construindo nas mãos de um engenheiro que nunca fez um cálculo estrutural? Você aceitaria se submeter a uma cirurgia com um médico que se diz formado na prática, que nunca pôs os pés numa universidade, não leu livro algum sobre medicina, nem sequer faz idéia do que consta no código de ética da profissão?
Certamente faltaria coragem e confiança para muitos.
Pois é, informação é coisa séria também. Porque uma informação mal produzida ou mal intencionada, difundida, por exemplo, por alguém que não tem nada a perder (porque não tem bens a preservar, nem valores morais a seguir), pode acabar com a carreira do médico que estudou durante mais de dez anos para obter sua formação. Não menosprezemos a força da imprensa.
E a Justiça? Devemos confiar nela, sim. Mas, além dos tribunais, onde será feita a justiça, quando não há dinheiro que pague o ônus? Sem contar que a Justiça poderá levar anos para esclarecer o fato, já que liminares, pedidos de vistas, contestações de decisões, etc e tal, poderão adiar o esclarecimento da verdade, tudo em nome do assegurado amplo direito de defesa. Aliás, quando a imprensa noticiar o engano ou a injustiça, talvez ninguém mais lembre quem era o fulano o prejudicado.
Agora vamos avaliar a realidade. Você já se imaginou estudando seis anos ou mais, dedicando noites e noites, horas e horas diárias aos livros, às interpretações e análises, com dedicação e amor à profissão. Investindo o valor de uma residência talvez ou de qualquer outro sonho que deixou de ser prioridade. E quando você finalmente alcança o canudo e o direito de exercer a profissão, este canudo não vale mais nada? Será que o jornalismo não é profissão?
Trabalhar com informação é sinômino de responsabilidade. O modo de trazer as informações interfere na percepção de realidade que o público faz. Quem deve exigir a qualificação dos profissionais é a própria sociedade, que ainda vê nos meios de comunicação a possibilidade de multiplicar e difundir suas idéias, anseios e necessidades. Um espaço que deve ser democrático e acessível.
A sociedade pelo menos precisa saber que estão tentando tirar a validade do diploma de jornalista. Por que poucos falam sobre isso? Talvez os maiores interessados em omitir a informação sejam os mais interessados em estar à frente dos veículos de comunicação. É uma pena que neste País tanta coisa fica sem resposta por tanto tempo!