Para Marcondes Filho (a saga dos cães perdidos) o jornalismo é a síntese do espírito moderno. Os conceitos de racionalidade, transparência e verdade, símbolos da sociedade moderna, são a base do jornalismo que, vendo-se agora desorientados com a falência destes preceitos, torna-se órfão e desintegra-se sem no entanto desaparecer. Sendo assim, o problema, conforme também aponta o Dominique Wolton, no livro "pensar a comunicacao", estaria justamente na defesa da sagrada objetividade/transparência quando o problema do jornalismo não é mais este, ou não é este o principal problema, mas sim, o excesso de informações, a overdose de notícias. Os jornais perdem tempo levantando a bandeira da objetividade enquanto seus leitores buscam a opinião, a interpretação da realidade, o que acontece, realmente, nos blogues.
Outra: A imprensa e a democracia caminharam juntas, segundo Wolton, com o objetivo de garantir a liberdade de informação, a legitimidade da imprensa e do jornalismo. Hoje, o essencial está conquistado: a imprensa e a informação são legítimas nos países ocidentais, a despeito de existir uma relação de força entre política e imprensa. O autor discorre sobre três vitórias, que seriam o ponto de análise para as contradições a serem resolvidas. A vitória política, que concede aos jornalistas e à informação o centro da democracia, onde as relações de força não ameaçam esta conquista, uma vez que ao longo da história a imprensa conseguiu pressionar o poder político, através da opinião pública, para conseguir o que queria. A vitória técnica, que permite ao jornalismo obter e disponibilizar informações praticamente em tempo real, e a vitória econômica, firmando-se como um dos setores mais lucrativos da economia ocidental.
A grande contradição apontada por Wolton que surge, apesar da tríplice conquista da imprensa, é que o discurso argumenta e luta para defender o que se defendia no século passado, quando hoje, na verdade, o problema não é mais a falta de liberdade da informação e sim o excesso dela, que torna sua gestão o ponto central a ser analisado.
A imprensa, em vez de assumir uma certa autocrítica em relação aos erros de sua própria vitória, faz como se ainda estivesse sendo ameaçada em sua existência legal. Apresenta-se tão frágil como em 1850, ao mesmo tempo que sucumbe às miragens do “quarto poder”. Os jornalistas, em vez de reconhecerem que a técnica facilitou a produção da informação, continuam invocando as complicações “técnicas” da profissão. As imprensa, ao invés de reconhecer que hoje o problema não é mais a liberdade política da informação mas o peso da economia e de seus efeitos na liberdade de informação, persiste em querer batalhar no plano político e em perder, no plano econômico, títulos, jornais, rádios e, amanhã, televisões e novas mídias passando de um proprietário a outro, ao sabor das concentrações e fusões. (Wolton, 2004, p. 264)
A informação já não é um bem raro e a grande problemática é o jornalismo tratar como se fosse, ignorando que a dificuldade é justamente o estatuto da informação num universo saturado.
Elise
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3 comentários:
O título está relacionando credibilidade com objetividade, que são coisas bem diferentes. Fiz isso apenas para chamar a atenção. Não confundi os dois conceitos, antes que me acusem de qualquer coisa.
Outra questão que permeia o jornalismo atual são as forças ideológicas e os interesses econômicos que são colocados acima da objetividade e da transparência, tanto defendida pelos autores.
Pergunta: Como nós jornalista que estamos entrando para o mercado de trabalho vamos lidar com a questão ética e moral destes monopólios que colocam suas ações acima do interesse informativo. Criando até mesmo informações contrárias ao fato para defender apenas os interesses econômicos de determinados grupos ou pessoas que estão pagando para não serem masacrados pelos meiso de comunicação.
http://www.brainstorm9.com.br/archives/2007/08/estadao_promove_debate_sobre_responsabilidade_e_co.html
acho que vcs podem gostar de saber que isto está acontecendo.
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